quarta-feira, 30 de julho de 2008

Batman - O Cavaleiro das Trevas

"When The Ships Are Down, This Civilized People Will Eat Each Other"


Sabe, eu tenho um carinho muito grande por Batman Begins. O filme foi responsável, junto com Superman Returns, pelo meu retorno ao mundo dos quadrinhos. Chega a ser engraçado quando lembro que, na época do lançamento de Begins, em 2005, eu dizia: "Eu que não gasto um centavo pra assistir um filme do Batman no cinema!". Isso graças ao trauma gerado pelos filmes do Joel Schumacher. Foi só tempos depois que, andando por entre as prateleiras de uma locadora, resolvi alugar o DVD do morcego. E quando começei a assistir, já percebia que aquele não era o Batman cinematográfico que conhecia. Mas minha confirmação veio em forma de uma cena específica do longa, logo na primeira aparição do herói travestido na armadura, quando, no caz, um dos capangas de Falcone pergunta: "Where are You?", e sorrateiramente, o Morcego, de ponta a cabeça surge atrás do bandido e diz, em um medonho susurro: "Here!". Naquele momento eu disse para mim mesmo: "Esse é o Batman de verdade, aquele dos quadrinhos". Fim do filme e pronto, voltei a ser fã do morcegão!
Era óbvio que, com o sucesso de Batman Begins, tanto em público quanto em critica, uma seqüência seria produzida. Tempos depois, as primeiras nóticias sobre o entitulado Batman 2. E com elas uma surpresa, as escalação do australiano Heath Ledger para viver o maior algoz do herói, o Coringa. Minha reação inicial foi algo tipo: "Que mierda. Com tantos atores fisicamente parecidos com o Joker (Crispin Glover, Hugo Weaving, Paul Bettany, etc, etc) por que escolheram logo um que só tem o branco do olho de semelhança?!?!". A "revolta" foi grande, mas é aquilo, vamos esperar para ver. Tempo vai, tempo vem, e finalmente sai a primeira foto do palhaço, uma foto sombria, de um Ledger com o rosto ceifado e um ar muito sombrio. A partir dai já sabiamos o tom que Christopher Nolan daria ao personagem, mantendo assim a visão realista já apresentada no primeiro filme.
Eis que, após meses acompanhando trailers que só me deixavam com água na boca, e fotos promocionais que só aumentavam minha ansiedade, estréia na telona Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, no original). E depois de assisti-lo, digo, com um sorriso no rosto: Batman Begins foi só um exercício, uma preparação para a verdadeiro filme, que é The Dark Knight.
Começemos pela história. Dois anos depois após o primeiro filme, Batman (Christian Bale) continua seu trabalho de limpar as ruas de Gotham dos criminosos. E o herói não está só. O promotor de justiça Harvey Dent (Aaron Eckhart) luta com as armas que tem para livrar sua cidade da criminalidade. Junto a ele, temos a agora assistente da promotoria e namorada de Dent, Rachel Dawes (Maggie Gyllenhaal). E o tenente James Gordon (Gary Oldman), que com sua Unidade de Crimes Hediondos luta por uma cidade melhor. Mas isso está assustando a Máfia. E é nesse desespero que o "conglomerado" de criminosos aceita a "ajuda" de um criminoso psicopáta, o Coringa (Heath Ledger). A partir dai, a "ópera" começa. Bruce Wayne vê em Dent uma chance de abandonar sua vida de justiceiro mascarado, deixando Gotham nas mãos do seu intitulado "cavaleiro branco", e assim poder ficar junto com Rachel. A UCH de Gordon prende o administrador das finanças da máfia. E o Coringa inicia seu plano para eliminar Batman, ao mesmo tempo em que planeja instalar o caos na cidade. Aqui é importante destacar como o roteiro, escrito a três mãos (pelo diretor Chris Nolan, seu irmão Jonathan e pelo roteirista do primeiro filme, David S. Goyer) e a direção de Nolan, não deixam a "peteca cair" Durante suas 2 horas e meia de projeção, o filme não perde o ritmo em momento algum, ostentando uma trama que se assemelha a filmes políciais; são 152 minutos que não cansam, e que prendem a atenção do expectador a cada minuto.
Quanto as atuações, bem... Vamos a eles. Christian Bale é um excelente ator, e aqui, ele dá um passo a frente no trabalho iniciado em Batman Begins. Seu Batman continua sombrio, só que mais maduro, que arca com as consequências de seu trabalho (como o de inspirar pessoas de uma forma errônea). Já Bruce Wayne está perdendo o controle, se entregando cada dia mais a sua personalidade "quiróptera", e assim passando tanto dos seus limites físicos quanto mentais.
Já Aaron Eckhart cria um Harvey Dent perfeito. Durante todo o filme vemos o personagem e seu ideal de um mundo justo cair por terra. Com o passar do tempo, Dent começa a ceder aos valores que tanto combatia. Ele cai minuto a minuto em um abismo de rancor e loucura que culmina com sua transformação no vilão Duas-Caras. Quando Nolan disse que o filme seria sobre Dent, não pensei que fosse tanto. Aaron rouba a cena com seu bom trabalho de atuação. Gary Oldman como Jim Gordon está excelente. O típico policial honesto, que acima de tudo, busca proteger sua família. É engraçado ver como Oldman, um ator que tem em seu currículo inúmeros personagens excêntricos, interpretar alguém tão "normal". Temos Maggie Gyllenhaal substituindo a insossa Katie Holmes no papel de Rachel. E aqui também Rachel amadureçeu. Sua personagem já não busca mais o amor platônico que nutria por Wayne. Ela seguiu em frente, e achou em Dent um homem que ama. Junte ao time os deuses Michael Caine e Morgam Freeman; Caine como um Alfred menos "apelo cômico" e mais paternal. Protagonizando dialogos excênciais com Bale. E Freeman, interpretando novamente Lucius Fox, como a consciência de Batman, alguém para dizer que eles está passando dos limites. Enfim, um excelente time.
Mas quem mereçe um paragráfo a parte é Heath Ledger. O ator australiano, falecido em janeiro passado, rouba a cena no filme. Seu Joker é uma amálgama bizarra de trajeitos que vai da falta de equilíbro do Capitão Jack Sparrow (Johnny Depp em Piratas do Caribe) a crueldade de Alex (Malcolm McDowell em Laranja Mecânica). Tá, isso causa uma certa sensação de deja-vu, algo tipo: "Já vi aquele trajeito em algum lugar"; mas isso não desmerece em nenhum momento o ator; acho que pelo contrário, só traz uma maior simpatia com a personagem. Esqueça o bufão interpretado por Jack Nicholson em Batman (1989). O Coringa de Nicholson, perto do de Ledger, é palhaço que anima festa infantil. É incrivel como a cada cena, Ledger cria um ser doentio, que celebra a dor e a morte, a destruição e a insanidade; e a atuação dela é apoiada por diálogos que "ajudam" a interpretar aquilo que o palhaço representa. Das falas do mesmo com Duas-Caras, quando ele diz: "Eu sou um agente do caos!"; ou a alegoria contada por Alfred sobre um bandido em Burma; tudo direciona o Coringa para aquilo que ele é. Alguém sem nada a perder, ou, nas palavras do diretor Christopher Nolan: "Uma força da natureza que destrói tudo por onde passa". Some a isso nuances de voz e uma incrível naturalidade na interpretação e temos o algoz perfeito para o homem-morcego. Alguém sem um racíocinio linear, alguém imprevisível. É interessante notar como "herói" e "vilão" são, na verdade, extremos de um mesmo ambiente. Ambos são os reflexos de uma sociedade decadente, sustentada no medo. Como o próprio Coringa diz ao Batman: "Para eles (os políciais) você é só uma aberração. Como eu!!!" E é esse medo que o antagonista pretende espalhar em Gotham. Com seus "ataques terroristas", o insano criminoso planta sua "semente do caos", para que assim, toda a população da metrópole se volte contra ela mesma, e passe a agir de forma irracional. Ele quer espalhar sua palavra, seu "evangelho"; e esse evagelho é o caos. Tudo isso é trazido ao público através da interpretação de Heath Ledger. Muito se disse sobre o ator e esse personagem; e com isso cresceu o boato de uma possível indicação postuma do ator ao Oscar. E levando em conta que a Academia gosta de prestar homenagens, e também de premiar atores por interpretações de personagens "freak" - vide Javier Bardem, que ganhou o Oscar de Ator Coadjuvante esse ano por sua atuação em Onde os Fracos Não Tem Vez - podemos sim, esperar uma indicação do australiano em 2009.
Quanto a parte técnica, temos mais uma vez um ótimo trabalho. Nolan, assim como em Begins, optou por "efeitos especiais" reais, tentando usar o mínimo possível de computação gráfica. Ou seja, as cenas de "ação" do filme são todas (ou pelo menos a maior parte delas) realizadas pelos atores e dublês, o que torna o filme mais crível. E esse é outro grande mérito do filme, ser real. Ao vermos Cavaleiro das Trevas, vemos o reflexo de nosso próprio mundo, da violência nas ruas de nossas cidades, e em termos de Brasil, bem... você sabe. Uma coisa que me deixou muito feliz foi ver como a nova roupa do homem-morcego funciona bem na tela. Outra coisa inressante no filme é a explicação dada para o uso do Batpod, vulgo Batmoto; apesar de meio fantástica, funciona muito bem na trama. Há ainda a excelente fotografia, que ajuda na construção tanto na história quanto dos personagens (a exemplo a cena final, com o Coringa de cabeça para baixo e a câmera também virada para baixo). E para completar temos a impactante trilha sonora de Hans Zimmer; o compositor reaproveita a trilha do primeiro filme, dando a ela maior impacto e presença no filme; destaque para a trilha nas cenas do Coringa, onde um ruído crescente sonoriza os diálogos do vilão.
Há também espaço para sitações a mitologia do morcego nas HQs. Desde coisas subliminares, como a piadinha que Lucius Fox solta sobre a nova armadura de Batman e gatos (seria uma dica de que Selina Kyle, a Mulher Gato, estará no próximo filme?!?!) a coisas mais obvias, como a aparição da pequena Bárbara Gordon, aqui com uns três anos de idade, filha de Jim e de sua esposa, também chamada Bárbara. Para aqueles que não sabem, a menina, quando cresce se torna a Batgirl.
Concluindo. Batman - O Cavaleiro das Trevas é um filme ótimo, uma expêriencia cinematográfica plena, que agrada tanto aos fanfarrões que gostam de filme tipo "massa véio" (lê-se blockbusters com muita ação) quanto aos críticos malas que só curtem filmes "cabeça" (lê-se filmes independente com mensagens a transmitir). O engraçado é ver como Batman se tornou coadjuvante de seu próprio filme. The Dark Knight é uma sinfônia da destruição, e suas notas músicas são a pura anarquia. Mas apesar do clima pesado e sombrio, seu final é a esperança, corrobado por uma cena que mostra que mesmo em situações difíceis, as pessoas ainda agem racionalmente, pensando no bem mútuo. Enfim, como já disse antes, é um filme que merece ser visto. E com ela, as adaptações de quadrinhos ao cinema atingem outro patamar. NOTA: 10


Um comentário:

????????????????? disse...

Se me permite, devo dizer que me deixou com mais vontade ainda de ver o filme.
E devo dizer que escreves muito bem e tem futuro como crítico de cinema...
Estou sem palavras,
Sem ar...
Será que ainda tenho sanidade? rs